O maracujá é o fruto de uma planta trepadeira, muito conhecida em todo o Brasil, tanto pela fruta como pela flor, também chamada de flor-da-paixão. Há muitas espécies de maracujá, que variam em tamanho e cor. A casca da fruta é grossa e pode ser amarela ou vermelha. A polpa, a parte comestível do maracujá, é formada por sementes pretas cobertas de uma substância amarela e translúcida, ligeiramente ácida e de aroma acentuado e característico.
Variedades
– Maracujá azedo ou amarelo: é o mais produzido no Brasil. Redondo ou ovóide, com muitas sementes, tem a casca grossa e amarela. Conforme amadurece, a casca torna-se enrugada. É este o melhor momento para ser consumido. Esse tipo apresenta uma série de características consideradas superiores ao maracujá roxo, tais como: maior tamanho do fruto, peso, teor de caroteno, acidez total, resistência a pragas e maior produtividade.
– Maracujá doce: com menor oferta (e preço mais caro), tem um formato que lembra um pequeno mamão papaia. A casca é lisa, mais clara do que a do azedo. A polpa é adocicada, com forte aroma, mas enjoativa quando utilizada na forma de suco. Éé quase sempre consumido ao natural.
– Maracujá roxo: é uma variedade da mesma espécie que o azedo, mas é menos encontrado no mercado. Além da casca escura, diferencia-se do maracujá amarelo por ser menos ácido. Pode ser consumido em suco ou como fruta fresca. Seus frutos são globosos, e a casca é verde antes da maturação, tornando-se púrpura após iniciado o processo. Apresenta em sua casca uma mistura de bioflavonóides (ácidos fenólicos e antocianinas), que conferem efeito anti-hipertensivo, ou seja, diminuição significativa da pressão sanguínea.
Propriedades benéficas
Frutos
Considerado um alimento funcional, pois é rico em vitaminas C, que além de contribuir para o bom funcionamento do sistema de defesas do corpo, tem propriedades antioxidantes. No caso de sucos, essa atividade antioxidante é atribuída aos polifenóis, principalmente aos flavonóides, por isso várias pesquisas têm sido conduzidas mostrando o potencial do maracujá (fruto, casca e semente) para várias finalidades, e a atividade biológica mais estudada com relação aos frutos do maracujá é sua ação antioxidante.
Além disso, a vitamina C também tem papel importante, pois ajuda na absorção de ferro. O maracujá também é fonte desse mineral, essencial para o transporte de oxigênio e a formação de glóbulos vermelhos no sangue. Contém potássio, que regula a pressão e o pH sanguíneo e auxilia nos processos digestivos e nas contrações musculares (após atividades físicas muito intensas, a reposição de potássio no organismo ajuda na recuperação dos músculos).
Fonte do mineral fósforo, que auxilia a regeneração de tecidos e tem papel fundamental na saúde de ossos e dentes, assim como o magnésio. Tanto este mineral quanto o zinco contribuem para o bom funcionamento do sistema imunológico. O zinco também é fundamental para a fabricação do material genético.
Além disso, também contém uma substância chamada passiflorina ou maracujina, que tem propriedades sedativas, mas não é prejudicial pois não causa dependência, por isso é considerado um calmante natural.
Casca
A casca de maracujá é rica em fibras solúveis, principalmente pectina, que é benéfica ao ser humano. Ao contrário da fibra insolúvel (contida no farelo dos cereais), que pode interferir na absorção do ferro, a fibra solúvel pode auxiliar na prevenção de doenças cardiovasculares e gastrointestinais, câncer de colón, hiperlipidemias, diabetes e obesidade, entre outras.
Além disso, também é rica em niacina (vitamina B3), ferro, cálcio, e fósforo. Estudo realizado demonstrou os benefícios da farinha de casca de maracujá como redutor da glicemia (no controle de diabetes). O extrato seco da casca de maracujá amarelo exerce uma ação positiva sobre o controle glicêmico no tratamento do diabetes mellitus tipo II, sendo o provável mecanismo desta ação a presença de um alto teor de pectina, totalmente degradável no organismo, que ajuda a diminuir a taxa de glicose e colesterol no sangue.
Sementes
As sementes do maracujá são consideradas boas fontes de ácidos graxos essenciais que podem ser utilizados nas indústrias alimentícias e cosméticas. O ácido linoleico (ω-6) é um dos principais ácidos graxos do óleo da semente de maracujá (cerca de 55-66%), seguido pelo ácido oleico (18-20%) e do ácido palmítico (10-14%). Já o ácido linolênico (ω-3) é encontrado em menor quantidade (0,8-1%). Os ômegas 3 e 6 desempenham importantes funções na manutenção das membranas celulares, funções cerebrais e da transmissão de impulsos nervosos.
Estudos constataram que o óleo extraído das sementes de maracujá possui elevado teor de ácidos graxos insaturados (87,54%), demonstrando que este produto tem um bom potencial para ser aproveitado tanto na alimentação humana e animal quanto no uso para a indústria de cosméticos.
Propriedades nutricionais
Carotenóides: A cor amarela intensa do suco de maracujá deve-se aos pigmentos carotenóides. O principal papel dos carotenoides na dieta é de serem precursores de vitamina A. Poucos carotenóides possuem esta atividade vitamínica, que é atribuída à estrutura retinóide. O betacaroteno é o que possui maior atividade como pró-vitamina A. Os carotenóides pró-vitamínicos presentes em frutas e vegetais atuam como antioxidantes na prevenção do câncer, catarata, arteriosclerose e processos de envelhecimento em geral.
Antocianinas: Contribuem para o padrão de cores das flores e para a cor roxa intensa de alguns de seus frutos, como o maracujá roxo, por exemplo. Outra substância antioxidante encontrada no maracujá é a cianidina. A cianidina é um pigmento antioxidante do grupo das antocianinas. Em estudos de laboratório, estas substâncias têm demonstrado uma ação preventiva contra alguns tipos de cânceres.
Vitaminas: Em seu fruto contém as vitaminas A, tiamina, riboflavina e C. Já o suco é um dos mais ricos em niacina (vitamina B3). A vitamina C é talvez a mais investigada por ser um dos principais indicadores do valor nutritivo do suco. A variedade roxa, com 29,80 mg de ácido ascórbico/100 mL de suco em média, apresenta maior teor de vitamina C que a variedade amarela, que possui 20,0 mg de ácido ascórbico/100 mL de suco.
Outros estudos relatam as vitaminas presentes em 100 g de suco do fruto do maracujá roxo: riboflavina ou vitamina B2 (0,1 mg), niacina ou vitamina B3 (1,50 mg), vitamina B6 (0,1 mg), folato ou ácido fólico (7,0 µg), vitamina A (717,0 UI), vitamina E (0,01 mg) e vitamina K (0,40 mcg).
Como puderam observar, existem muitas substâncias presentes nos frutos do maracujá, principalmente em sua polpa e casca, que podem contribuir para efeitos benéficos, tais como: atividade antioxidante, anti-hipertensiva, diminuição da taxa de glicose e colesterol do sangue.
As variedades comerciais do maracujá são também ricas em flavonóides, carotenoides, minerais e vitaminas A e C, substâncias responsáveis pelo efeito funcional em outros alimentos. Apesar do grande potencial do maracujá como alimento funcional, ainda são poucos os estudos existentes com este enfoque sobre os frutos das espécies utilizadas em alimentação no país.
Seus subprodutos como cascas e sementes podem ser aproveitados, e, além disso, apresentam ações farmacológicas e nutricionais; a casca, rica em pectina, além de outras substâncias como os flavonóides e as sementes, ricas em ácidos poliinsaturados como os ômegas 3 e 6.
ZERAIK, Maria Luiza; PEREIRA, Cíntia A. M.; ZUIN, Vânia G. and YARIWAKE, Janete H.. Maracujá: um alimento funcional?. Rev. bras. farmacogn. [online]. 2010, vol.20, n.3, pp. 459-471. ISSN 0102-695X.
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